Hoje, 9 de Dezembro, faço anos. 40. Não sei bem se são muitos ou poucos. Mas sei que não são bastantes. No sentido em que não me bastam. Não me basta esta vida. Não me canso dela. Quero sempre mais. Gosto bem de por cá andar. Boa sorte me tem levado.
Fica-me só a amargura de ir-se o tempo embora. Vai-se, o meu tempo.
Meu? Pergunto-me se o tenho, se o posso possuir. Nem que seja por um pouco. Ou se esta vontade de o ter é a medida de quão meu não é. Se o fosse, de verdade, poderia fazer dele o que quisesse. Sem o querer converter em troféus, dinheiro ou lembranças. Poderia saciar esta fome de não fazer nada. Parando para me sentir rico dele. Desbaratá-lo, sendo que mal se aplica a palavra. Pois ricos são os momentos em que desbarato tempo. Ricos dessa amplitude imensa que é apenas estar, apenas ser.
Não é meu esse tempo de tudo ter que andar depressa. Não me servem momentos de velocidade imposta. Para acontecer isto e aquilo que depois mais à frente vai otimizar aquilo ou aqueloutro. Sempre a colecionar uma caderneta infinita, que nunca chega a ter todos os cromos. Sempre a amealhar uma pobreza de entrega. Esse tempo não é meu. Está sequestrado, alugado, vendido, hipotecado, quase sempre por conta do que nunca chega a acontecer.
Vem um saldo, sim. De tantos anos passados, número redondo esse, quarenta. Com sorte, quem sabe, metade de um todo generoso. Já poucas vezes me vem à mente a check-list do costume: carro, família, casa, emprego, dinheiro no banco. Poucas dessas contas faço se me ponho a saldar. É verdade que é o tipo de lista que vai dando algum sossego. Mas sossego de uma batalha contra dragões imaginários. Já não os imaginando, pouco verdadeiro me parece esse tipo de balanço.
Onde conto então que vou bem? Na experiência, claro. No momento, sem dúvida. No mais banal dos momentos. Mas também na forma de pensar. No respeito por todo o tempo que levou mudar a forma de eu ver o mundo. Que não podia ser assim antes, parece-me claro. Que me permite contributo e ligação e pertença e paz. Bens imensos, raros. Mais valiosos não há.
Tempo meu, para onde vais? Leva-me nessa exploração do que pode ainda ser, que é tanto. Faz-me perder na contagem, faz com que eu não saiba quantos já passaram, que essas contas distraem-me e fazem-me sonhar menos. Ensina-me tudo o que há para lá deste maldito ábaco que nunca soma o que quero. Relembra-me de como somos infinitos e de que não vale a pena essa tremura das trevas sempre à espreita.
Estaremos preparados para chegar ao fim da vida e sentir o desperdício da pressa? Que conselhos sábios teremos para o nosso eu de agora, que em breve será o de antigamente? Que tristeza não acumularemos caso saibamos depois o que deveríamos ter feito já? Ansiedades parvas, atropelos da perfeição dos instantes, na pressa de os possuir, ou não perder, mas sempre em perda, por sentir que se vai tarde... tarde para onde?
Tempo meu, não sei para onde vais. Mas admiro a tua viagem e agradeço-te a boleia.
Gonçalo Gil Mata
(Foto: Algures a explorar o mundo.)
Caro Gonçalo,
Um grande abraço de parabéns, espero que o dia seja bem aproveitado.
Mais um texto ótimo para a reflexão, as usual.
Da ESTG - Politécnico de Leiria,
João Sousa (Comissão Organizadora das Jornadas de Eng. Eletrotécnica 2015)