Agradam-me estes dias cinzentos. Parece que parou o tempo para dar espaço à alma. Um sossego calado, aqui e ali salpicado por uma chuva preguiçosa. Mergulha-nos na calma letárgica de estar tudo suspenso, desafiando a batuta do relógio. Por momentos uma pausa nessa eterna angústia de um dia irmos acabar e de tudo o que achamos que temos que fazer antes disso. Para ter "valido a pena". Para ter "aproveitado a vida".
De onde virá esta tristeza infinita de termos que morrer? Como se houvesse alguma coisa a fazer. Será para nos empurrar a amassar o pão da culpa? Apurando a ambição de querer chegar ao fim a pensar que fizemos o que podíamos, sem nunca disso termos a certeza. Tanto que podia ser diferente. Tanto que nos mantém encostados ao sofá, mesmo se mal, mas sem nada fazer para de lá sair. Responsáveis pelo destino, mas só algum. Ao mesmo tempo sem precisar de fazer, mas sob o peso da responsabilidade de nada ter feito. Aproveitar, aproveitar, seize the day, carpe diem, sempre essa pressão de sorver tudo, pura ganância existencial que tantas vezes apenas bloqueia.
"Morre já hoje. Para que a liberdade de viver te assista realmente." Krishnamurti tinha este dom de falar fácil e forte. Empurrando-nos contra a vontade de intelectualizar as coisas. Porque só vê claro quem vê simples. Desnevoado. Desneblinado. Hoje o meu dia é assim, tão enevoado quão espaçoso. Ofusco cá fora, totalmente transparente por dentro. Vendo claro como a morte me esmaga entre a sua inevitabilidade e o puro prazer de viver intensamente o privilégio estatisticamente improvável de existir.
Será por isto, que vemos este vício da celebração invadir-nos? Festa por isto, festa por aquilo, carimbo aqui, título acolá, festa porque acabou o curso, festa porque acabou o secundário, festa porque acabou o infantário... sempre mais um prémio inventado à força, tanto para quem ganhou como para quem ficou em último, não vá esvaziar-se a sua identidade... não vá desaproveitar-se a sua vida, será? Olha se morria atropelado logo a seguir e não tinha ganho nenhuma medalha no entretanto...
A certa altura concluí ser um mergulho envenenado, esse de pensar na morte. Pura mistura explosiva entre o cálculo deficiente de infinito com o instinto máximo de sobrevivência. Um vício que não pode dar bom resultado. E percebi que essa vontade de racionalizar a coisa era tão idiota quão inexata. Sabemos lá o que é a morte.... será lá ela "intelectualizável?... E haverá alguma vantagem nesse exercício angustiante de conceber um mundo eternamente sem mim?...
Por outro lado, não será útil saber que vamos acabar? Não tanto para que o relógio nos acelere a agitação e o ruído cá dentro de ter que fazer depressa antes que se esgote a festa. Esse não é o sentido certo, parece-me. Mas saber que vamos acabar para que possamos pousar, pousar realmente, num dado momento, num dado instante, num atravessar de praça, ou num dia enevoado como hoje, pousar, pausar, estancar, vagarar, demorar, suspender, mergulhar, nessa serenidade que vê mais amplo, mais largo, que sabe sentir, vivenciar, saborear e experienciar, livre de amarras, com toda a liberdade de quem realmente aceitou que vai morrer, este fenómeno tão estranho quão intrínseco que é estar vivo.
Gonçalo Gil Mata
(Foto: Esposende, PORTUGAL)
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