Patagonia, CHILE
Tenho cada vez menos pressa. O que não quer dizer que não ande depressa. Sempre usei este princípio ao conduzir mota. Depressa tudo bem, ajusta-se a diversão ao risco, por vontade própria, com consciência. Com pressa é que não. A pressa empurra-nos para o erro, para pisar o risco, para o descuido, enfim, para fazer sem consciência o que de outro modo não faríamos.
Pressa é não ver que o planeta roda a uma velocidade constante. Firme. Imutável. Sólida. Inquestionável. Pressa é querer que o elevador suba mais depressa. Pressa é querer que o carro da frente não tenha uma velhinha receosa a conduzi-lo. Pressa é não aceitar a fila do supermercado. Pressa é querer que a torradeira seja mais rápida do que é. Pressa é querer que um filho pequeno não tenha decidido vestir sozinho o casaco. Pressa é querer acelerar o tempo do semáforo vermelho. É querer dançar à frente do ritmo da música que está a tocar.
Pressa é, no fundo, não querer viver a vida que é a nossa. Correndo o risco de o conseguir. Isto é, correndo o risco de conseguir efetivamente estar ausente de cada momento, sempre à procura que ele tivesse sido mais rápido, mais expedito, mais curto. Até um dia concluir que já foi. Que passou e não estávamos lá. Não a sério.
Andar depressa e andar com pressa são coisas muito diferentes. Podemos, atrasados, injetar rapidez máxima nas nossas ações, sem com isso cair em ansiedade. Apenas como quem joga uma partida de sueca sem a aflição de ganhar. Sem a falsa promessa de que ganhar significa qualquer coisa mais do que ganhar. Quando acreditamos que o jogo da vida é algo mais do que a feijões, a ansiedade e a adrenalina parecem ser um veneno aceitável: o preço a pagar para quem quer mais velocidade, mais concentração, mais agressividade, mais controlo, mais resolução. Mas, quando vemos que não há nada a resolver, que a vida não é "para se resolver", é para se saborear, andar depressa não tem que ser andar com pressa. E andar depressa mergulhado em pressa e andar depressa mergulhado em paz, são dois depressas bem diferentes, ainda que na forma, cá por fora, pareçam quase iguais.
Há algo de tranquilizador em saber que o planeta demora 24 horas a dar uma volta completa. Sempre. Todos os dias. E que nem as voltas que cá dentro a cabeça dá à volta da vida, nem as voltas que cá fora damos à volta dessas, nunca vão atrasar nem adiantar os ponteiros do relógio firme do universo.
Vamos com calma: há sempre tempo suficiente para tudo aquilo que cabe. Há sempre tempo de sobra para quem sabe que não cabe tudo.
Gonçalo Gil Mata
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