Boca Grande, BUENOS AIRES
Enquanto coach profissional, uma das questões mais assíduas com que contacto é: "Eu até sei o que queria fazer, mas falta-me a coragem de dar o click!".
Esta constatação de que há uma espécie de muro entre onde estamos e onde queremos estar encerra múltiplos aspetos e nuances. Um em particular surge muitas vezes como a chave do problema: de que é feito esse muro? Qual é essa matéria que nos trava? De que é feita essa barragem capaz de segurar toneladas de vontade, às vezes acumuladas ao longo de anos, podendo suster essa pressão toda uma vida, possivelmente até ao ponto de finalmente nos sentirmos quebrados, domados e acostumados à inércia de nunca ter saltado?
À primeira vista, a explicação de não querer mudar remete para o medo do desconhecido, do imprevisto, da falta de controlo. E sim, esse é um tema crucial, porque não treinando mudar, não sabemos se sabemos mudar. Não praticando trocar de casa, a ideia de arrumar biblots, transportar móveis e reaprender onde fica a padaria pode ganhar contornos medonhos. Mesmo se do "tenho medo de não me adaptar", nasce quase invariavelmente um "foi mais fácil do que pensava". Mais importante do que cada mudança concreta em si mesma, é o padrão de raciocínio que associamos a mudar e a decidir mudar. Que significado tem a mudança? E, ainda mais cirurgicamente: que significado tem conseguir ou falhar como resultado dessa mudança?
Parece-me reconfortante descobrir que, ao navegar nas biografias das mais bem sucedidas pessoas de negócio do mundo, grande parte delas acumula no seu currículo em média mais de dez grandes falências. Faz-me pensar que o sucesso não é tão dependente de fazermos tudo bem no nosso grande plano detalhado, mas antes dependente de interiorizarmos que, no monopólio da vida, umas vezes ganhamos, outras perdemos, e que, acima de tudo, se continuarmos a jogar acabaremos por ganhar, não só pelo resultado final, mas porque jogar com paixão é em si uma vitória existencial.
Porém, o que acontece se perder ou ganhar não é simplesmente perder ou ganhar? O que acontece se tentar e falhar ganha uma importância que não tem? E se resolvemos associar ao fracasso não um mero erro de percurso, mas todo um peso identitário de quem somos? O que nasce quando, muito para além dos aspetos mais simples e triviais de tentar mudanças na vida, cada tentativa dá direito a um carimbo indelével? A resposta é direta: nascem barragens! Nascem muros no nosso caminho. Paredes que nos podem entalar por muito tempo, e até para sempre, constantemente alimentadas por esse pensamento envenenado de que tentar e falhar é algo mais do que uma boa aprendizagem para da próxima sair melhor. E é esse mesmo veneno que faz também com que um pequeno empresário que tentou a sua sorte em algo que não funcionou não saiba quando é altura de parar, aceitar a falha, e seguir viagem, ao invés de enterrar toda as poupanças que tem e as que não tem insistindo em algo que não funciona, apenas porque fracassar é proibido na lista das pessoas de bem.
"Eu até sei o que queria fazer, mas falta-me a coragem de dar o click!" - não é no combate ao medo que nos desbloqueamos. Como não é no mundo seguro da argumentação lógica que desmontamos barragens nascidas no desconhecido da alma. Para desbloquear, há apenas que aceitar as curvas do caminho e reduzir o significado atribuído ao resultado. Há que compreender a viagem que nos é proposta... e ir!
Gonçalo Gil Mata
Encontrei a coragem para dar o click e estou a adorar a adrenalina!!!!