Passeio Alegre, PORTO
Gastamos muita energia a pedir que as pessoas sejam algo que não são. Que façam o que não fazem. Para que corrijam, aprendam, melhorem. Aparentemente, quanto mais próximas, mais insistimos no caso...
Doer-lhes é doer-nos. Queremos o seu bem, que é, no fundo, o nosso. Empurramo-las para onde queremos que vão, crentes de sabermos o que é melhor. Zangamo-nos também, se for necessário. Porque o amuo é moeda de troca, uma medida de força. E, quando controlar é preciso, parece que tudo vale. Mesmo fazer o mal, para o bem. Mesmo azucrinar juízos, a quem precisa de espaço para encontrar o seu caminho, e não de mais receitas e instruções.
Corremos até o risco de as empurrar para longe, como castigo por não se portarem como achamos que deviam. Por não serem felizes como podiam. Por repetirem estratégias que do nosso pedestal tão bem vemos não resultarem. Um louvável zelo que acaba por não fazer bem a ninguém.
Com a melhor das intenções, sem dúvida. Por amor, é certo. Mas sem ver que tantas vezes é mais eficiente aceitar. Compreender a complexidade de cada um. Subjugar-nos à sua própria fórmula. Receber. Sossegar. Sentar. Sintonizar. Ouvir. Mimar. Entender. Acolher. Uma vez mais: sem querer resolver!
Na família, em particular, tudo parece agudizar-se. Pais a educarem filhos, filhos a educarem pais. Irmãos e irmãs, tios, primos e sobrinhos. Todos se empurram o quanto podem, a resolver a vida uns dos outros, incompreendendo a relativa inutilidade do esforço. Curiosamente, já entre avós e netos parece não se passar tão facilmente a brincadeira. Orientam menos. Apenas vão dizendo os mais velhos: "não leves isso tão a sério" ou "deixa lá, isso não tem importância." Porque não tem. Não à luz de uma perspetiva mais ampla de quem já viveu muito. E se tentamos empurrar o avô a fazer o que achamos que é suposto, talvez ele nos olhe, calmo, compreensivo, dizendo um "está bem. vou pensar nisso.", mas sabendo tão mais para lá do dito.
Convenhamos: não temos jeito nenhum para empurrar as nossas pessoas. Tentamos, mas funciona um pouco como uma manga que ficou presa no puxador da porta. Não vai lá com força. Quando muito, desalinhamos umas costuras...
Gonçalo Gil Mata
Um caso real... de como os pais querem o melhor para a sua filha, mas nem sempre resulta melhor.
Uma jovem acaba a licenciatura em advocacia e procura emprego. A muito custo, e contra a vontade dos donos da empresa, conseguiu convencê-los que seria uma boa Recepcionista , porque queria estar ativa no mercado de trabalho. Ela feliz com a conquista e independência financeira em vista, depois daqueles anos de sacrifícios dos pais, a pô-la a estudar na universidade...conta a novidade aos pais. A reacção dos pais: - Não! A minha filha não andou a estudar para ISTO! A reacção da filha: uma depressão.