Chaves, PORTUGAL
Há alguns anos atrás, no seu singular estilo de simplicidade e carisma, Joseph O'Connor ensinou-me algo estruturante: não é possível alguém gerar pressão numa outra pessoa. A pressão vem de dentro de cada um. É um mecanismo ativado por um significado que nós mesmos atribuímos ao que o outro diz ou faz, baseando-se porventura numa dúvida de adequação, e que nos impele para agir, para fazer ou ser diferente.
Que tolice, pareceu-me à primeira vista. É claro que o meu chefe me pressiona quando quer!
Tentando digerir o que me parecia difícil de aceitar, por contrariar as evidências, imaginei-me a tentar pressionar um mestre Zen...
Mais tarde compreendi também que quando estamos frágeis nos tornamos agressivos. Porque a perceção de ameaça está mais ativa. A insegurança cria vontade de atuar, de interferir, de mudar o mundo - o que raramente se revela boa ideia numa dessas alturas. Porque cá fora não existe isso que imaginamos. Não existe a ameaça e não existe a fonte de pressão. Cá fora só existe o real. Puro. Ora calmo, ora agitado, ora solarengo ora cinzentão. Prazeroso ou doloroso. Factos, sem significado próprio. Sem juízo de valor. Sem potencial de ação per se. Cá fora, as coisas não estão nem bem nem mal. Apenas estão.
Quando estamos feridos e afastamos o mundo, pedem-nos para estabelecer a ponte, para nos ligarmos. E isso parece-nos abrir portas para o agressor. Até podemos tentar, para agradar as hostes, para sanar as aparências, mas nunca esqueçamos que a ponte em falta nos liga a nós mesmos. O agressor está sempre cá dentro... ora zangado por termos feito ao contrário do que devíamos, ora zangado por nos termos iludido achando que alguém ia fazer diferente, ora zangado porque o mundo é incerto e indomável e não há meio de acertarmos na fórmula. Cá fora, tudo vai como vai, nem bem nem mal. É com este de dentro que é tão difícil fazer as pazes...
Gonçalo Gil Mata
BRIDGES TO PEACE
Some years ago, in his humble yet unique and charismatic style, Joseph O’Connor taught me something structuring: it isn’t possible for one person to generate pressure in another person. The pressure comes from inside each and every one of us. It’s a mechanism activated by the meaning that we tend to assign to what others say or do, perhaps supported by some kind of an adequacy doubt, that impels us to act, to be or to do differently.
What a nonsense, it felt to me at first sight. It’s obvious that my boss presses me whenever he wants!
Trying to digest what seemed to me so difficult to accept, out of its evidence contradicting nature, I imagined myself trying to force pressure upon a Zen master…
Later I also understood that when we feel more fragile we become more aggressive. Because then the perception of threat is more active. Insecurity creates desire to act, to interfere, to change the world – which rarely reveals to be a good idea in one of those moments. Because outside there are no such things as we're imagining. There is no threat and there’s no source of pressure. Outside, only the real exists. Pure. Sometimes calm, sometimes agitated, sometimes sunny, other times gloomy. Pleasurable or painful. Facts, without meaning on their own. Without judgment. Without acting potential per se. Outside, things are neither well nor unwell. They just are.
When we are hurt and drive the world away, we are asked to set up a bridge, to connect. And that seems to us as opening the door to the aggressor. We may even try, to please the attendance, to keep up the appearances, but let's never forget that the missing bridge is the one that links us to ourselves. The aggressor is always inside… sometimes angry because we did the exact opposite of what were supposed to, other times angry because we deluded ourselves thinking someone would do things differently, sometimes angry because the world is uncertain and tameless and there’s no way we get the formula right. Outside, everything goes as it goes, neither good nor bad. It’s with the one inside that’s so hard to make amends with…
Gonçalo Gil Mata
Caro Gonçalo,
É sempre bom ir lendo os teus artigos, pois trazem uma percepção própria das coisas apenas possível a alguém que consegue ver e aprender.
Nesse sentido queria fazer-te uma pergunta, sendo a pressão algo interno inerente a cada um, como é que será possível mitigar ou acalmar a pressão que cada um de nós coloca sobre si próprio?