RECARREGAR BATERIAS
ARTICLES • 04-02-2015
RECARREGAR BATERIAS

Katmandu, NEPAL


 
 
Parece ter-se entranhado na maneira de estar de muitos. Esta ideia de que se corrermos o suficiente chegaremos ao tal sítio prometido, onde é permitido descansar...
 
 
Nem vou discutir o paradoxo. Mas tenho visto com muita frequência vacilarem-se as baterias de quem corre desenfreado. E, claro, cansados corremos menos. Rendemos menos. E por isso ainda menos podemos descansar, por haver tanto por fazer. Nunca parar, nunca parar!...
 
 
Quando nos auto-contratamos para policiar se corremos o suficiente, num "emprego" a tempo inteiro, 7 dias por semana, só parando para dormir - quando dormir é possível - ficamos exaustos. Então sonhamos com férias... mas férias de qual emprego? Do real ou do interno?
 
 
É importante saber que não temos que nos esforçar ao máximo sempre. Não temos que vigiar em permanência se não poderíamos ter feito melhor ou ter influenciado mais. Não temos que encarar cada tomada de decisão com o peso da responsabilidade de quem tem o mundo nas suas mãos. Podemos, mas não temos que o fazer. Além disso, um esforço em rotação máxima contínua dificilmente garante uma boa performance - antes pelo contrário...
 
 
Podemos em vez disso confiar. Em nós e no universo. Confiar alivia... confiar descansa!
 
 
Recarregar baterias em modo turbo está ao nosso dispôr a qualquer momento. Não exige grande tempo, nem televisão para nos hipnotizar, nem praia ou montanha. Na verdade não exige nada. É exatamente quando deixamos de exigir o quer que seja, que o carregador se liga à tomada na potência máxima. Quando decidimos menos, e quase sem pensar. Quando escolhemos pouco, quase sem escolher. Pode ser no trânsito, no caminho para o trabalho, num simples intervalo de almoço. Momentos curtos onde tudo se simplifica: observar sem interferir.
 
 
Quando penso nisto lembro-me sempre de "O Escafandro e a Borboleta". Um livro/filme biográfico que relata um homem de 43 anos que sofre um AVC ficando aprisionado num corpo totalmente paralisado. Consegue ver, ouvir e raciocinar normalmente, sem poder mexer um dedo - uma total passividade que é obrigado a aceitar. Aflitivo, sem dúvida, mas... por outro lado... que esclarecedor! Quase até libertador! Não será um alívio constatar que afinal o mundo se resolve na perfeição sem a nossa intervenção esforçada? No dia-a-dia não parece nada...
 
 
Bem, a toalha da mesa não ficaria na mesma posição, o miúdo não levaria a camisola certa, e talvez tivesse travado mais naquela curva, conduzes tão depressa!... Sim, o mundo não faria exatamente como faz quando envolvemos sérios esforços em influenciar como tudo é feito, mas... e então?
 
 
Entre a febre de influenciar tudo e a impotência de não poder controlar nada, haverá um equilíbrio ajustável a cada momento. Sabendo que, nas alturas em que falta energia, descansar reside em aceitar mais, em influenciar menos. Quando o mundo parecer exigir tanto de nós que nos suga e esgota, descansar reside em abdicar de interferir, em tirar um dia de folga desse emprego permanente do controlo. Em apenas estar, sentindo as decisões serem tomadas em piloto automático, menos presos à importância dos detalhes do desfecho, sentindo a energia voltar.
 
 
Já imaginou um dia inteiro confiando que o universo pode escolher por si? E, se o chateiam muito a perguntar porque está tão calmo e tranquilo, talvez pendurar um sinal ao pescoço: "I'm OK, just charging..."
 
 
Bom descanso!
 
 
Gonçalo Gil Mata
 
 
 
 
 

 
 

RECHARGING BATTERIES

 

It seems to be entrenched in the way of being of many people. This ideia that if we run enough we will arrive at that promised place, where resting is allowed...

 

I won’t even discuss the paradox. But I’ve often seen the batteries of those that run rampant falter. And, of course, tired we run less. We produce less. And so we can even rest less, because there’s so much to do. Never stop, never stop!...

 

When we hire ourselves to police if we run enough, in a full time “job”, 7 days a week, only stopping to sleep – when sleeping is possible – we become exhausted. So we dream with vacation... but vacation from which job? The real one or the internone?

 

It’s important to know that we don’t always have to take our efforts to the maximum. We don’t have to watch permanently if we couldn’t have done it better or influenced more. We don’t have to face each decision with the weight of the responsibility of someone with the world in his hands. We can, but we don’t have to. Furthermore, a continuous maximum rotation effort hardly guarantees a good performance – quite the contrary…

 

Instead we can trust. In ourselves and in the universe. To trust relieves... to trust relaxes!

 

Recharging batteries in a turbo mode is at our disposal at any moment. It doesn’t require much time, nor television to hipnotize us, nor the beach nor the mountain. In fact it doesn’t require anything. It’s exactly when we no longer demand for anything, that the charger connects the plug in it’s fullest power. When we decide less, and almost without thinking. When we choose less, almost without choosing. It may be in traffic, on our way to work, in a simple lunch break. Short moments where everything gets simpler: observing without interfering.

 

When I think about this I always remember of “The diving bell and the butterfly”. A book/biographic movie that portraits a 43 years old man who suffered a stroke becoming trapped in a totally paralyzed body.  He can see, hear and think normally, without be able to lift a finger – a total passivity that he is obligated to accept. Mortifying, no doubt, but... on the other hand... how insightful! Almost liberating even! Wouldn’t it be a relief to realize that the world solves itself perfectly without our hard working intervention? In our daily life it doesn’t seem like it at all...

 

Well, the dinner table towel wouldn’t be in the same position, the kid would’t wear the right shirt, and maybe I would have slowed down a bit more in that curve, you drive so fast!... Yes, the world wouldn’t do exactly like it does when we involve serious efforts to influence how everything is done, but... so what?

 

Between the fever of influencing everything and the helplessness of not being able to control anything, there could be an adjustable balance each moment. Knowing that, when energy is lacking, resting resides in accepting more, in influencing less. When the world seems to demand so much of us that absorbs and exhausts us, resting resides in abdicated from interfering, to take a day off of that permanent job of controlling. It’s simply being, feeling the decisions being taken in automatic pilot, less chained to the importance of the end result details, felling the energy coming back.

 

Have you ever imagined an entire day trusting that the universe can choose for you? And, if  people bother you asking why you’re so quiet and peaceful, maybe hang a sign around your neck:  "I'm OK, just charging..."

 

Good rest!

 

Gonçalo Gil Mata 

 

3 comments
Rita
Ainda bem que o mundo não pára por nossa causa. A sensação de que uma andorinha não faz a Primavera é essencial para o meu bem estar. Sinto imprescindível na mesma, mas sem o peso da responsabilidade total!

Um excelente exemplo disso foi o Natal deste ano: estive completamente off de todo o processo e... tcharan! o Natal foi maravilhoso, super bem organizado e tudo corre muito smoothly. Portanto: termos pessoas muito boas à nossa volta não será tambem condição para podermos descontrair melhor? :)
in 2015-02-06 12:30:14
Joana Costa
Confiar no Universo re-perspectiva a nossa posição no mundo. Abdicar do controlo, talvez menos ego e mais pertença.
in 2015-02-06 08:57:38
Ariana Barros
Pararmos todos à espera da decisão do universo é uma ideia que não me transmite muita esperança. Não sei, acho estranho... sensação de que vai tudo parar.
in 2015-02-05 14:05:12
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