TENTAR OUTRA VEZ

ARTICLES • 11-02-2015

Sveti Stefan, MONTENEGRO

Enquanto apreciava o meu filho bebé a tentar agarrar um boneco pendurado do "móbil", notei a sua inacreditável persistência. Não conseguiu à primeira, nem à segunda, nem à décima vez. Terá estado uns bons 5 minutos a tentar, até que, contra todas as probabilidades, conseguiu mesmo!

Fez-me pensar...

Suspeito que nós, adultos, tentamos poucas vezes as coisas. Se não funciona à primeira, nem à segunda, se calhar mais vale desistir. Rapidamente preferimos a tranquilidade e aceitação da derrota do que enfrentar outra vez a eventual dor de falhar, somada à própria incerteza, sofrida, de não sabermos de vamos ou não conseguir. Se vai ou não acabar em bem. Temendo o que isso poderá dizer de nós. Querendo dar fecho à pendência. Resolver. Arrumar.

Um bebé não quer saber o que pensamos dele, nem dos seus falhanços. Um bebé quer o boneco e pronto. Nem se envergonha por falhar à nossa frente. Também não tem problemas com falsas esperanças. Não aprendeu ainda a amuar. Tudo isso torna-o totalmente livre para insistir as vezes que for necessário. E mesmo que nunca chegue a conseguir, só desiste quando "tentar", em si, perde a piada.

Pergunto-me se não nos daria jeito uma dose assim de resiliência desavergonhada. Livre de tropeções de ego. Quantas vidas felizes ficarão por viver em pleno, se baixarmos os braços à segunda ou terceira, se nos resignarmos com menos do que temos direito... sem ver que talvez logo ali à frente, à 4a ou 5a tentativas é que ia ser, e nós, desistidos pelo caminho, sem poder aproveitar... que desperdício!

Sim, bem sei que alguns trambolhões doem a valer, mas... vá lá, não desista já. Espere um pouco, se quiser, mas depois... permita-se sonhar de novo e... permita-se tentar outra vez! Desista de vez só quando "tentar", em si, perder mesmo a piada...

Gonçalo Gil Mata

TRY AGAIN

While I was contemplating my baby son trying to catch a hanging toy, I noticed his unbelievable persistence. He didn’t catch it on the first try, neither on a second one, neither on the tenth. He tried at least for 5 minutes, until, against all odds, he really made it!

It got me think...

I suspect that we, as adults, try things fewer times. If it doesn’t work by the first try, or the second, maybe we’re better off giving up. We quickly prefer the calm and acceptance of the defeat rather than facing again the eventual pain of failure, plus the uncertainty, most suffered, of not knowing if we are going to make it or not. If it will or won’t end up well. Fearing what that could mean about ourselves. Wanting to close the pendency. To solve. To pack things up.

A baby doesn’t care about what we think of him, or his failures. A baby wants the toy, that’s all. He is not ashamed of himself because he fails in front of us. He also doesn’t have any false hope problems. He has not yet learned to sulk. All that makes him free to insist as many times as necessary. And even if he never makes it, he only gives up when “trying”, per se, loses the enjoyment.

I ask myself if such a shameless dose of resilience wouldn’t be useful. Free of ego stumbles. How many happy lives will remain to be fully lived, if we throw the towel by the second or third attempt, if we resign with less than we deserve... without seeing that maybe just around the corner, by the fourth or fifth attempt, we were going to make it, and we, by giving up in the middle of the path, are not able to enjoy the victory… what a waste!

Yes, I know that some falls hurt a lot, but... come on, don’t give up just yet. Wait a little, if you want, but after a while… allow yourself to dream again and... allow yourself to try again! Only give up definitely when “trying”, per se, really loses the fun…

Gonçalo Gil Mata