DIAS CINZENTOS
ARTICLES • 18-10-2016
DIAS CINZENTOS

La Concepcion, PANAMÁ


 

Há qualquer coisa neste cinza de céu que me inverna a alma. Tolhe-me os sentidos.
 
Deixo-me empurrar, mas não vem de dentro a força. Não como quando me conforta o sol. Não como quando as cores do dia me convidam a explorar o mundo.
 
 
Esta chuvinha miúda molha-me, tolo que sou, enquanto pairo confuso à procura de direção. Tudo tosco, tudo obscuro, nada me cativa o movimento. É esse recolhimento de vontades que pauta os meus dias ao vento. Dias que se vão trambolhando pelo relógio fora. Pouco marcados, pouco balizados, mal divididos, espraiados, tudo invadindo. Com a pacatez de um gato espreguiçado ao comprido numa cama desfeita. Inerte e entregue à mandriice.
 
Mas eu não tenho esse tempo livre. Então não estou parado, e mesmo não me sentindo empurrar, a roda gira sozinha, havendo que dar o próximo passo, para não tropeçar no seguinte. As coisas acontecem, eu sempre presente, mas ausente. Indo sozinhas, vou-lhes fazendo má companhia. Juntos chegamos ao fim do dia, expoente máximo do aconchego quando também o meu lado de fora fica dentro - de casa, dentro de lar, dentro de alguma coisa que protege em segunda camada, a primeira tendo estado ativa o dia inteiro.
 
 
Felizmente que esta tristeza - sim, que é de uma tristeza que falo - não passa disso. É apenas um pano de fundo, que envolve e aconchega. Penso que todos teremos esta capa protetora que vem em nosso auxílio quando a mensagem é de recolha. O inverno que se anuncia pede recolha. E não há nada a combater, apenas algo a vestir, dentro e fora.
 
 
"The winter is coming", e eu não me importo. Mas sei que, para mim, pelo menos, é sempre melhor quando faz sol...
 
 
 
 
 
Gonçalo Gil Mata
 

 

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