QUEM SOU EU?
ARTICLES • 05-07-2017
QUEM SOU EU?
 
 
 
Há algumas perguntas que podem acompanhar-nos uma vida. "Quem sou eu?" é uma boa candidata.
 
Quem sou eu? Que saldo resta desta vida já vivida? O que diz de mim o que faço, o que fiz? Quem serei na cabeça daquela pessoa? E da outra? E na minha cabeça, quem sou?
 
Como qualquer outro pensamento, também este pensamento da identidade é volátil, sofre as suas oscilações climatéricas. Um dia acordo deprimido e não sou ninguém, não valho nada. No dia seguinte consigo contribuir muito para qualquer coisa significativa e sou um membro do clã, num sentimento forte de pertença. Noutro dia qualquer marco o golo da vitória e por momentos sou um herói, destacado, cheio de auto-significado.
 
 
Vejo este hábito de nos auto-representarmos como uma espécie de bússola antiga, avariada. Parece prometer direção, mas, vai-se a ver, é pouco fiável, baralha-se facilmente o Norte, fica de pernas para o ar o mapa, acaba por servir de pouco. Mas lá vai ela, atrelada à mochila, companheira de vida. Uma vezes mais polida, outras mais esquecida. Hoje em dia com alguns truques de embelezamento artificial, por exemplo no fb, selecionando que melhores fotos vão traçar o melhor perfil, e mais um avatar de norte avariado se alimenta de alguma esperança em que, pelo menos num dado universo, esse ser exista, para que possa ser contemplado, quem sabe refinado, aprimorado ao ponto de alguém dele gostar.
 
Tanto esforço para nos tornarmos "alguém". Como se não o fôssemos de verdade à partida. Tanta corrida para nos tornarmos merecedores. Tantos items nessa lista de correções de tudo o que ainda falta para lá chegarmos. Esse lá, autêntica meta com rodinhas, sempre mutável, potencialmente infinita, inalcançável.
 
Quanta importância damos a esse pequeno vício mental de calcular "eu"! Presente em tudo se deixamos, mas igualmente inexistente se o vemos apenas pelo que é: um pensamento habitual. Tão mais somos do que essa representação parcial, sempre parcial, sempre defendida, atacada, esgrimada, batalhada, trabalhada, pensada e repensada... que canseira por um pedaço de pensamento, meia dúzia de sinapses a disparar de contentes quando alguém fala bem de nós. Tanta algazarra por saber o que o outro pensa desse nosso "eu"...
 
 
Muito mais importante do que sabermos quem somos, parece-me, é sabermos o que somos. Expressão simples de uma matéria prima universal, comum a todos, puro potencial, eternamente em evolução, sempre inconstante, sempre livres para aprender e mudar e deixar mudar, se não levamos tão a sério isso de querermos tanto ser alguém que congelamos numa mera versão, aprisionada no tempo. É ao compreendermos a nossa essência transformacional que nos podemos entregar ao mundo com a liberdade de ser o que somos. E quantas fotos lhe podemos tirar no entretanto! Quantos self's não se encontrarão lá pelo meio, se os quisermos inventar! Mas não será bem mais real a versão sempre inacabada, sempre plena, de apenas sermos, nunca sendo o mesmo a cada instante?
 
 
Deixemos lá no canto da mente um espaço para brincar aos egos, que mal tem isso? Mas, que tal diversão não se leve muito a sério.  Porque essa história de querermos contar sobre nós uma dada história, apega-se ao que já fomos, e acaba por roubar ao que somos tudo o que ainda podemos vir a ser...
 
 
 
 
Gonçalo Gil Mata
 
 
Atenção: últimas vagas no Reinvention Day 2017! Venha reinventar a sua história, e criar um novo episódio. Estamos sempre a tempo de descortinar mais um pouco do nosso potencial adormecido... 
 

 

 
 


 


Estádio do Boca Juniors, BUENOS AIRES

 

 

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