Peninsula Valdez, ARGENTINA
Já pensou como seria arriscado ter neste preciso momento um ataque de felicidade? Sem razão nenhuma, só porque sim: pimba! Totalmente feliz por um momento! Um autêntico perigo, não?
E digo perigo, porque temos um polícia mental a monitorizar a coisa. E estar desprevenidamente bem é proibido. Como se estivesse socialmente estipulado um limite de alvarás de felicidade, e não se pudesse, simplesmente, estar bem sem antes pedir permissão. Ou porque chove, ou porque há desemprego, ou porque um amigo está mal, ou porque um ex-primeiro ministro aparece nas notícias e passa a ser obrigatório desacreditar o futuro do país, alegadamente na mão de bandidos. Como se não fosse possível escolher um outro canal, onde passam mais sorrisos e a vida é menos complicada.
Este senhor polícia mental, que tolda a nossa esperança e ambição, sabe o que faz. Antes dele um dia estávamos tão distraídos, tão contentes da silva e acertou-nos uma paulada tão grande que pensámos: da próxima é melhor estar atento, porque assim desprevenido dói muito. E passamos a acreditar que a chibata nas costas dói menos se estamos a contar, mesmo não sendo verdade.
Então montamos o tal polícia mental, a ver se o entusiasmo não é demasiado... E ele anda atento! Esquecendo que andar atento é procurar, e procurar é encontrar. E depois algures no tempo, decidimos que afinal a vida é coisa séria e que convém rir menos. E a cada "piada" que o universo faz, a cada momento único que nos oferece, estudamos o caso, com cautela, a ver se não há engano. Se é mesmo seguro rir. Se ninguém nos está a aldrabar. Tanto que a piada perde a graça. E vemos passar-nos ao lado uma e outra.
Numa sociedade como a nossa, viver intensamente feliz é como passear nu pelas ruas: totalmente desadequado. Pois eu sugiro mandarem prender o polícia e emitirem a vossa própria permissão para ser feliz. Acabe-se com essa PIDE mental. Não se espere que termine de chover, não se espere por boas notícias no jornal, não se espere pelo carro novo, nem pela casa nova, nem se espere pelo testamento escrito.
Porque a vida é um privilégio a ser sugado a cada instante com toda a merecida intensidade. Livremente. Desregradamente. Acriançadamente. Já, agora e rápido, que se acaba o tempo!!!
*inconsciente