DO DITO AO FEITO
ARTICLES • 09-09-2016
DO DITO AO FEITO

Eilean Donan, SCOTLAND


 

Projetos, ideias, negócios, lojas, restaurantes, empresas, livros, teses, capítulos de livros ou teses, frases e parágrafos desses capítulos. Tudo isto se constrói com pequenos passos. Um telefonema, uma palavra, uma letra do teclado, um momento de humildade em que fazemos uma pergunta idiota, de quem não sabe, mas quer saber. Este não é o sítio, diga-me então onde ir, quem tem boca vai a Roma.
 
Como leva um empreendedor a cabo o seu projeto? Sim, um plano dá jeito, alguma organização ajuda, o financiamento facilita, e boas dicas de negócio também, mas, acima de tudo, é a perseguição sistemática e implacável de micro-vitórias que fazem a diferença. É aí que a disciplina de um futuro empresário deve ser aplicada. No próximo passo. Um, e outro, e depois outro e mais outro, sempre de olho posto na próxima pequena meta. Um processo metódico, cíclico, mecânico: continuar, nunca parar. Como no provérbio chinês, tudo começando num primeiro passo, e o que resta da viagem depois desse, igualmente se conquista dessa forma.
 
 
Mudar, fazer, construir, criar, montar, exige fazer diferente. O zapping costumeiro do sofá não constrói coisa alguma. A rotina de todos os dias não muda nada. O vício de sempre não dá espaço para criar o novo. E ser empreendedor é mudar.
 
Mudar exige sempre um pequeno passo diferente, um pouco ao lado do habitual, no sentido do que não se sabe, da incerteza, da possibilidade de falhar, mas também da possibilidade de conseguir. Um passo que assusta, ou que desafia o que julgávamos saber de nós e do que somos capazes. Mas que sabemos nós do que somos mesmo capazes? Quantos impérios se iniciaram com uma primeira pergunta determinada, com um simples pedido de uma qualquer declaração numa qualquer instituição pública? Um mero e-mail para um fornecedor perdido no mundo, que até responde. Quantas embrulhadas, complicações, novelos bem atados numa rodilha impossível, afinal se foram percebendo e desembaraçando, puxão daqui, puxão dali, um de cada vez, e mais um, e mais outro, mil se preciso for, cada um deles singelo no seu contributo, mas somando, sempre somando, como num enorme puzzle de paciência, peça a peça a imagem surgindo lentamente.
 
 
Micro-passos - esse tão elementar segredo do sucesso de construir um negócio - fazem tudo acontecer pela ação. Um braço que se mexe, um dedo que passeia em teclas, algo de físico que se move, aproximando, magnetizando a meta, sem saber o que vem do outro lado. Sendo que dessas origens misteriosas e desconhecidas, incertas e assustadoras, vem o poder de criar realidades diferentes. Suspendendo o hábito velho. Recusando o convite de sempre. Vencendo a vontade mansa de descanso e inércia. Menos vezes gastando com palavras o sonho distante de copo na mão, mais vezes acordando cedo e tomando ação, real, experimentando, prototipando, visitando, contactando.
 
É na fila de espera das finanças, no gabinete da câmara, no skype com a china, na obra com o empreiteiro, na folha de excel, ao telefone com o transitário, no avião para a aventura de ir à feira da especialidade... é aí que se faz o futuro sucesso de um empresário. É na força de enfrentar as dificuldades, que se distinguem os empreendedores. Justamente onde tantos se cansam e desistem. É em continuar a corrida pelo parque, quando não faltam bancos de jardim a oferecer descanso. O fácil e evidente todos fazem. É no difícil que está o ouro. Nunca à mão de semear. Sempre à mão de garimpar, duro. Na vontade de aprender o que mais ninguém sabe. De ir mais longe, de tentar mais uma vez, de fazer um esforço extra, nascido de inspiração, de missão, de paixão. Pé ante pé. Em si cada passada simples, mas sempre firme, concreta e real. Repetitiva. Sistemática. Quase robótica. Inexorável. Um caminho com um só sentido, em que nunca se chega verdadeiramente a nenhum lado, por haver sempre mais pequenas metas, numa a corrida infinita que faz sentido. Quando tal, já vamos longe, mas ainda apetece dar mais um passo. E outro.
 
 
Parece, de facto, estar o sucesso no empreendedorismo reservado para quem se concentra em completar uma pedra de cada vez, não se assustando com o tamanho do castelo que possa daí resultar.
 
 
 
 
 
Gonçalo Gil Mata
 

 

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