Buenos Aires, ARGENTINA
Já todos tivemos uma tarefa importante a ser continuamente empurrada com a barriga. Sabemos racionalmente que temos de ir, mas não mexemos. Um dentista, testes para corrigir, teses para escrever,... embora pareça perfeitamente idiota adiar o problema, não há meio de se desbloquear, e então esperamos que alguma pequena catástrofe nos acorde do transe e nos empurre para o inevitável.
Procrastinar é mais lógico do que parece. Internamente associamos à tarefa uma perspetiva de falha, de insucesso, de nos virmos a arrepender, ou uma noção de inutilidade... sem darmos por ela, zás! fica feita a "macumba", enfeitiçado o feitiço. A partir daí, as mais espetaculares desculpas surgem do nada, qual marroquino no deserto do Sahara. Tarefas que sempre esperaram tornam-se inevitáveis, e podemos mesmo acabar com um índice de produtividade notável, resolvendo tudo e mais alguma coisa, exceto o que precisamos de fazer. É admirável...
Disciplina pode parecer a solução, e até em parte resultar, mas estaremos sempre do contra. E avançar à força, estando do contra por dentro, nunca me surge como boa estratégia. Há que compreender a resistência interna, há que conversar com o medo. Há que repensar a consequência.
Dos milhentos estratagemas para gerir procrastinação, todos eles com resultados interessantes, uma abordagem merece-me o Grande Prémio da Eficácia: não levar a coisa tão a sério! Porque nunca é assim tão importante, apenas parece que é. Esqueça os resultados, reveja o significado, alivie as consequências. Deixe cair o castelo de cartas que é o mapa de implicações que já desenhou na cabeça caso aconteça ou não aconteça. Porque tudo isso parte de uma premissa errada: a de que não ficará bem caso não consiga completar com sucesso o que tem em mãos. E isso não é verdade, embora seja justamente o que dá toda a energia ao bloqueio.
Traga outro estado mental ao assunto. Entre na brincadeira, deixe-se guiar pela curiosidade, pela viagem, parta à descoberta, livre dessas consequências. Vá ao sabor de quem explora uma cidade nova em modo férias. De quem dá um passeio de inverno pela praia. Sem obrigações ou grandes planos, sem necessidade ou intenção. Apenas porque sim. Porque é o caminho. Sem levar a coisa muito a sério.
Convém ainda lembrar que não alinhar no jogo e pôr ativamente pés ao travão evitando avançar, é negar qualquer coisa que, no fundo, quer que aconteça. É desviar os olhos do destino. É ficar a ver o comboio passar...
Nunca deixo para amanhã o que posso fazer no momento!
Quem vai para o mar avia-se em terra!!!