Rio de Janeiro, BRASIL
Acabo de chegar de umas férias off-the-grid. Bem, dentro do que é possível estar desligado hoje em dia. Claro que há sempre um internet-café em todo o lado, mas essencialmente não levei comigo o telemóvel. E pareceu-me, como sempre parece, um exercício saudável de conetividade. Uma conetividade diferente.
Não a conetividade sôfrega de todos os dias, sempre de polegar em riste a consultar a torneira infinita dos posts, emails, mensagens, sempre querendo mais e mais... não esse vício de slot-machine de casino, dando por mim a rodar a manivela das novidades, qual rato de laboratório a reagir a dois elétrodos espetados na cabeça, sem pensar, apenas querendo saciar uma fome que não cede, por não ser real.
Penso e não tenho bem resposta: que esperamos obter? vamos atrás de o quê? qual é o vício mecânico por detrás? Curiosidade? Empatia? Divertimento? Fuga? Companhia? Atenção? Sensação de não querer "perder a festa"? Protagonismo? Identidade? Validação?
Do que me surge como resposta, a que menos me convence é a suposta e anunciada conetividade social. Porque, de conetividade, parece ter tão pouco... Sim, claro, falamos, conversamos, trocamos informações e damos notícias, mas... com que densidade? Com que nível de empatia, de sentimento? Com que dedicação? Com que intensidade? E com que prejuízo, se agora nem quando me sento a tomar café com um amigo, raro é quem consegue 30 minutos livres da eterna roleta do facebook? ou do email, ou das chamadas, ou dos sms? Onde está a exclusividade com que dedicávamos atenção ao próximo, entregando-nos de verdade a um momento que podia bem ser de silêncio, pouco importava? Sem ter que preencher com qualquer coisa mais, momentos que se auto-bastavam!
Sim, eu sei que me repito, a temática não é nova. É só que, depois de uns dias sem roleta, cheios de côr e som e calor na pele, e intensidade de experiência, de ligação, de profundidade de conversas de praia, sem pressa, sem updates, com a novidade suficiente do que se passa cá fora, fica meio estranho voltar a mergulhar neste mundo digital, de tão fininho que ele é...
Enfim, haja equilíbrio. Bem sei o tanto de bom que tem o outro prato da balança. Não estaria ninguém a ler isto de outra forma. Haja tempo para uma coisa e outra. Mas acima de tudo, haja coragem para de vez em quando ao chegar a casa, ou num jantar de amigos, ou quando fizer sentido, desligar estes bichos viciantes para sentir o mundo, que, comparado assim à primeira, até parece meio aborrecido, mas que, vendo bem e se olhamos a sério, disponibilizando alma para sentir, é tão mais amplo e rico!...
Gonçalo Gil Mata
..para um relógio 1 minuto = 1 minuto.
Para o homem pode ser uma eternidade ou um ápice!
Já tenho mais passado do que futuro:
No devices only my RULES!
OFF