Hong Kong, CHINA
Ter um ano novinho em folha tem um efeito interessante de página em branco. É ver as asneiras arrumarem-se sossegadas num passado que fecha. É a grande oportunidade de fazermos tudo bem a partir de agora, num começo impecável, a ver se encarrila certinho... É ir, já a partir desta semana, 3 vezes ao ginásio... uups! Pronto, a primeira semana não conta, mas a partir da próxima é que é! Certinho! Vai ser perfeito...
12 passas, 12 resoluções, 12 objetivos, 12 promessas ambiciosas prontas a armadilhar-nos...
Em parte, a nossa motivação depende da credibilidade do objetivo. Move-nos a perspetiva de sucesso. Desentusiasma-nos a noção de que caminhamos para o fracasso. 12 resoluções parece-me uma tradição propícia à falha. Doze são muitas! Sabe Deus para conseguir 2 ou 3!... ou serão 12 muito pequeninas, também dá.
Este ano recomendo, e ainda vamos bem a tempo, que sejamos mais criteriosos na escolha das resoluções. Poucas e boas. Não vá parecer que fazemos a lista das nossas falhas. Tipo relato de tudo o que ainda não está como queríamos que estivesse. O que seria um foco pouco recomendável. Até porque, isso tudo que achamos que deveria ser de outra forma, promete uma paz que não vamos obter verdadeiramente quando lá chegarmos. Porque essa paz é nossa, não depende disso, e se está escondida, não é uma lista de conquistas heróicas um bom sítio para a procurar.
Já passamos por isto antes... o ano passado por exemplo! 2014 começou também a 1 de Janeiro, com uma destas histórias de desejos e objetivos... e, vai-se a ver, no final das contas, tanto que coube no ano! Umas coisas melhores que outras, é certo. E tantas que não estavam na lista das passas e tão boas que foram!...
Gosto de perguntar: quantas dessas quero voltar a ter em 2015? E saem logo uma carrada delas, garantidas, que quase de certeza vou ter outra vez... é mobilizador saber que partimos já, e a cada ano, de um ponto muito bom. Que foi muito bom ter vivido 2014 e que vai ser muito bom viver 2015. Mesmo se algumas passas ficarem por terra...
Pessoalmente, mantenho apenas 3 orientações estratégicas a cada momento. Mais que suficiente. Afixo-as num post-it, à frente do nariz, introduzidas por 1 pergunta auto-provocatória que volta e meia leio: "Esta semana respeitei estas 3 prioridades estratégicas?". Atualmente, como uma das prioridades estratégicas é não ligar demasiado às prioridades estratégicas, a coisa não vai mal...
No geral, escolha poucas e boas! Mas quer tenha doze ou três resoluções pela frente, agradeça o privilégio de poder iniciar e sorver mais um ano de pura existência!
Gonçalo Gil Mata
THE 12 GRAPES PROBLEM
To have a totally fresh new year has an interesting blank page effect. It’s seeing all the mistakes peacefully boxed away in a closing past. It's the big opportunity of doing everything right from now on, in an impeccable start, hoping to get it on track from the start… It is going, starting this week, 3 times to the gym…. Damn! Well, the first week doesn’t really count, but from the next one on, I’m on it! You’ll see! It will be perfect…
12 grapes, 12 resolutions, 12 goals, 12 ambitious promises ready to trap us…
In a certain way, our motivation depends on how credible the goal is. The perspective of success moves us. The idea that we’re walking towards failure discourages us. 12 resolutions seems to me a tradition destined to fail. Twelve is a lot! God knows how hard it is to accomplish 2 or 3!…or maybe 12 small ones, all the same.
This year I recommend, and we’re still perfectly on time, that we choose our resolutions more carefully. Fewer and better ones. Otherwise, it’ll seem we’re making our faults’ list. Like an inventory of everything that’s not yet how we would want it to be. Which would be an unwise thing for us to focus on. Even because, all those things we believe should be different, promise a kind of peace we won’t actually achieve when we finally get there. Because that peace is ours, it doesn’t depend on that, and if it’s hidden, a list of heroic conquests isn’t a good place to look for it.
We've been here before… last year for instance! 2014 also started on January 1st, with one of this stories of wishes and goals… and, at the end of the day, how many things actually fitted in a whole year! Some things were better than others, for sure. And so many others that weren’t in our grapes list and turned out to be so so good!...
I like to ask: how many of these do I really want to keep in 2015? And immediately a whole bunch of them get out, guaranteed, that almost for sure I’ll have them again… it’s encouraging to know that we are already starting, each year, from a very good point. That it was very good to have lived 2014 and that will be very good to live 2015. Even if we have to give up on some of our grapes…
Personally, I keep only 3 strategic instructions on every given moment. It’s more than enough. I post them on a post-it, in front of my nose, introduced by a self-provocative question that I read every now and then; “Did I follow these 3 strategic priorities this week?”. Currently, since one of the strategic priorities is not to care too much about strategic priorities, it’s not altogether bad…
Overall, choose fewer and better! But even if you either have twelve or three resolutions ahead, be thankful for the privilege of getting to start over and absorb yet another year of pure existence!
Gonçalo Gil Mata
Parabéns Gonçalo. Pela pertinência do assunto. Pela simplicidade e assertividade da expressão.
Mantendo o registo simples, lá diz o sábio povo: mais vale um pássaro na mão do que dois (ou doze) a voar.