O QUE É ISTO DA EXPERIÊNCIA?
ARTICLES • 05-08-2015
O QUE É ISTO DA EXPERIÊNCIA?

Las Vegas, USA


 

   Já pensou de que é feita a nossa experiência? Este acontecimento algo indefinível que é estar aqui, vivo, existir, sentir, captar partes do mundo, ler estas palavras, sentir a temperatura na pele, enfim, ser invadido pela realidade, que nos penetra os poros e se converte num mundo mágico de sensações. O que é isto? O que são essas sensações? E de que dependem, com que fatores variam?


    Embora já tenha sido dito muitas vezes de maneiras diferentes por inúmeros autores ao longo da história, creio que o que vou dizer a seguir se mantém profundamente revolucionário para a maioria das pessoas: ao contrário do que possa parecer, a nossa experiência depende muito mais da nossa máquina mental do que da realidade exterior. O nosso estado mental, o nível de amplitude da consciência, da disponibilidade sensorial, do nosso foco atencional, os mecanismos de significação, enfim, a própria intensidade de rotação do motor do nosso pensamento, todos eles interferem de tal modo na nossa experiência a cada momento, que chega a ser difícil compreender como tanta da nossa energia é cegamente canalizada para atingir objetivos e alterar a realidade, cá fora, e tão pouca atenção é dada à gestão da própria máquina mental, cá dentro.

    Sabemos isto perfeitamente quando um bebé, perto da hora de dormir começa a embirrar por tudo e por nada. Rapidamente desistimos dos brinquedos e concluímos: tem sono! Nada de errado com o boneco. Nada de errado com a cadeira. Nada de errado com nada, cá fora. Apenas um desequilíbrio na máquina, a precisar restaurar os níveis de energia.

   Nós, adultos, pelo contrário, parecemos insistir em corrigir o mundo, especialmente nos dias de mau humor, movendo mundos e fundos para resolver de uma vez por todas os empecilhos no nosso caminho, em emails irritados e discussões pouco tranquilas. Esquecendo que o que sentimos e vivenciamos tem uma relação bem mais distante do que parece da realidade contextual. (e no dia seguinte, novamente "sóbrios", sempre teremos que limpar as asneiradas a que isso nos levou...)

    Não estou a afirmar que a nossa experiência não depende do real. Não estou a dizer que é a mesma coisa estarmos no escritório, extenuados, a aturar um chefe idiota e rezingão ou estar numa praia paradisíaca a mergulhar nas águas mornas do Caribe. Mas certamente reconhecerá que também não é o mesmo, do ponto de vista da experiência, estarmos nessa mesma praia maravilhosa, com a mente serena a usufruir profundamente da calma de estarmos de férias, ou com um pensamento acelerado, inquieto, preocupado com detalhes do hotel e com os planos da estadia, ou com os assuntos que ficaram pendentes lá no escritório.

    A nossa disponibilidade sensorial amplia-se quando reorganizamos as ideias, e em particular os compromissos. Por isso é tão libertador o trabalho de escritório antes das férias: este fica para quando regressar, este faço agora, o outro também. A clarificação das promessas com os outros e também connosco tem valor. Limpa. Serena. Ou quando terminamos um projeto longo, uma tese, um livro. E nasce espaço para sentir, porque já não estamos orientados a fazer, fazer, fazer. Fazer para cumprir.

     Mas atenção: a nossa habilidade de criar novamente ruído mental é fantástica, mesmo em férias. Por isso, recomendo-lhe, nestas férias, que deixe sossegar as ideias. Prolongue até um pouco mais do que lhe seria habitual os espaços mentais, os intervalos do seu diálogo interno, apreciando o que isso lhe traz.



    Mais do que uma mera lente colorida a captar o exterior, a nossa mente é ela mesma parte ativa na criação da experiência. E podemos afiná-la de acordo com o que pretendemos. Aproveite então a possível serenidade do seu descanso para perguntar: afinal, o que pretendo? Que objetivo estará por detrás de cada objetivo e de todos os objetivos em geral? Que outra coisa poderá ser, que não sentir um certo sentir? Pergunto-lhe, pois, e antes de tudo, essa eterna questão que julgo ser a mais importantes que faço junto dos meus clientes: se pudesse escolher, afinal de contas, o que quer sentir mais vezes?


                                                                                                                                        Gonçalo Gil Mata

 


P.S: Para quem sabia que eu estava na reta final do livro: já está! Acabei, finalmente. Prontinho para imprimir. Foram semanas muito intensas, mas está. Lançamento no início de Outubro. Mais detalhes em breve. Para já, novamente disponível para brincar com as palavras por aqui...
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