OUTONO DENTRO
26-09-2017
OUTONO DENTRO

 



É oficial: Outono. Anuncia-se o frio. Prepara-se o espírito para o aconchego. Para uma vela acesa à luz morrinha do fim do dia, que chega cada vez mais cedo. A parede da lenha bem carregada a prometer calor quanto baste. Lá fora, tudo morre um pouco.
 
 
O tempo leva o seu tempo, mas sempre chega. As zangas sempre se somem, e o verão trará outra vez o tempo quente, um dia. Mas quanto do nosso coração não se sequestra nos entretantos? Será em vão? Nem sempre chega o abraço quando dele precisamos. E custa guardar o nosso para mais tarde. Sempre para mais tarde. Sempre na dúvida se virá de lá o outro. Expectante. À espera de quando alguém precisar, se precisar.
 
E será que então ainda teremos vontade? Ou esta fragilidade engole tudo? Soterra tudo? Bem protegido no canto mais recôndito do ser, tão dentro que quando o chamamos só o tempo de chegar já se foi o outro embora... mas sempre chega, se esperamos, e o chamamos.
 
 
Para quando aprender a esperar? Espera boa, a sossegada, a do espaço da alma, a do toque na nossa casa, no dentro da nossa casa, no que sai bem de dentro no sentimento de regressar a casa. Uma palavra, uma frase, um silêncio, um pequeno nada a cavar caminho, até ao centro, até verter e jorrar qualquer coisa que não tem bem forma, embora ocupe espaço, e peso, bem se vê quando sai o leve que fica.
 
 
E deixamos passar. Porque sempre passa. E então parece que nada foi, e que podemos voltar a ser como dantes, embora nunca o tempo volte ao antigamente. Mas este regresso ao inato, à origem, a como se fosse de novo outra vez, mesmo se tudo está diferente cá fora, esse regresso, dizia, está à distância de um pensamento. Na verdade, é mesmo aqui ao lado.
 
Queremos tanto do mundo e às vezes damos tão pouco... guardando tudo para mais tarde? Para quando e para quem, pergunto eu?...
 
 
 
 
 
 
Gonçalo Gil Mata
 
 
 

 
(Foto: Fez, MARROCOS)
 
 
 

 

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