Hong Kong, CHINA
Acredito que, para a maioria de nós, férias signifique uma reserva excecional de tempo. Tempo para fazer daquelas coisas que não cabem no dia-a-dia, sejam utilidades ou prazeres. Arrumar a garagem, ler livros, pôr alguma ordem nas fotografias; descansar, levantar sem despertador, poder dormir a sesta, poder não fazer nada; cuidar o bronzeado, aproveitar o ar livre, fazer churrascos e caminhadas e passeios, visitar a família, enfim, um milhão de coisas cabem no imaginário desse enorme espaço de calendário onde tudo parece possível...
Sem grande experiência em gerir doses tão generosas de tempo, é fácil ter mais olhos que barriga. Um pouco como nos casamentos quando chega a altura das sobremesas... Contas feitas, o tempo de férias pode escoar-se até mais rápido do que no resto dos dias, comprometendo a sensação de concretização, de saciedade e de realização que previmos.
Surge-me o paralelo com a gestão de stress - mais tempo raramente resolve pressão interna. O stress surge quando sentimos não ser capazes de cumprir com todos os compromissos. Sem melhorar a noção de "cabimento", mais tempo pode apenas significar ainda mais compromissos, para compensar défice, com nível idêntico de pressão, ou pior.
Ainda outra analogia, tão em linha com estas: a gestão do dinheiro. Se alguém gastar, mensalmente, mais do que o seu ordenado, é difícil imaginar que uma linha de crédito resolva coisa alguma! Pelo contrário: pode tornar ainda mais distante a perceção dos limites, empecilhando uma correta gestão da escassez. Mesmo um bom subsídio de férias pouco adiantará se em vez de cobrir défice acumulado decidir dar entrada num carro novo.
A garagem nunca será suficiente para arrumar tudo sem purgar de vez em quando. Como o armário da roupa também. E o disco do computador. E... a própria vida como um todo parece ser um exercício de gestão de escassez - para introduzir novos hábitos ou novos objetivos, impõe-se uma pergunta-chave: "de que estou disposto a abdicar?".
O seu tempo de férias é tão escasso como sempre. E se o "vender" antecipadamente a um milhão de compromissos, ideias e desejos, por sentir que precisa de o "aproveitar muito bem", é normal que não caiba um mundo de sensações que também fazem falta: estados de espírito de paz, descanso, olhar sem pressa, sem disciplina, deixar fluir o tempo e recarregar verdadeiramente as baterias. Todos estes vêm essencialmente da noção de sobra...
Por isso, estas férias, considere prometer-se menos, abdique mais, defina menos objetivos, encurte a "check-list", e sinta a liberdade de gozar com outra intensidade o tempo que sobra quando doseamos ambição e afinamos cabimento...
I believe that, for most of us, holidays mean an exceptional reserve of time. Time to do those kinds of things that don't fit in our daily routines, being utilities or pleasures. Clean up the garage, read books, get some pictures in order, rest, wake up without an alarm clock, take a nap, do nothing, have a tan, enjoy the outdoors, have barbecues, walks and promenades, visit the family… a million things fit in our imaginary of that huge calendar space where everything seems possible…
Without much experience in managing such generous doses of time, it's easy to bite more that one can chew. A little like in weddings when is time for desserts… Math done, holiday time can run out faster than in ordinary days, compromising the sensation of accomplishment, of satiety and fulfillment that we predicted.
A parallel comes to min with stress management - more time rarely solves the internal pressure. Stress comes along when we feel not able to fulfill all our commitments. Without improving our notion of "fitting", more time may just mean even more commitments, to compensate the deficit, with equal level of pressure, or worse.
Yet another analogy, in line with the previous: money management. If someone spends, monthly, more than their paycheck, it's hard to imagine that a line of credit will solve anything! On the contrary: it may just make even more distant limit perception, getting in the way of proper scarcity management. Even a good holiday pay will be of little help if instead of covering the accumulated deficit you decide to give an entrance pay to a new car.
The garage will never be enough to clean all up if you don't make an occasional purge. Same with the closet. And the pc hard drive. And… life itself as a whole seems to be a scarcity management exercise - in order to introduce new habits or new goals, a key question arises: "what am I willing to give up on?"
Your holiday time is as short as always. And if you "sell" it in advance to a million commitments, ideas and desires, just because you feel you need to "make the most of it", it is only normal that a much needed million of sensations won't fit: peaceful states of mind, rest, look with no hurry, no discipline, let time flow and truly recharge batteries. All of these come essentially from the notion of plenty...
So, this holiday, consider to promise less, give up more, define less objectives, shorten your "checklists", and feel the freedom of enjoying with other intensity your remaining time when one doses up ambition and fine-tune "fitting".
Dou por mim a olhar o mar com uma certa pressa de passar para o item seguinte da lista:
1. Apreciar paisagem - check
2. Visitar família - check
3. Ficar morena - on progress....
É uma lista interminável e quando dou conta férias "bye bye"