TEMPO LIVRE
ARTICLES • 13-05-2016
TEMPO LIVRE

Bunheiro, PORTUGAL


 

Sinto muitas pessoas com fortes desejos de mais tempo livre.
 
Ora, na expressão tempo livre, vejo duas necessidades diferentes. A primeira: a necessidade de terem mais tempo, em geral, em quantidade, para fazerem tudo aquilo que têm ou querem fazer. Trata-se de uma questão de cabimento. Esta, tem essencialmente que ver com o facto de conseguirmos, ou não, aceitar que somos ser finitos num mundo de virtualmente infinitas oportunidades.
 
 
A segunda componente interessa-me mais: a sensação de liberdade que pode estar a faltar. Quando penso em tempo LIVRE, penso em tempo solto, indomado, autónomo. Tempo livre pode ser passar uma tarde sem fazer absolutamente nada, se for o que o "tempo" quiser fazer. Já, por exemplo, uma tarde afogueada a tentar aproveitar o tempo para fazer mil coisas que não tínhamos tido tempo para fazer até então, já me parece muito pouco livre. Parece-me tempo aprisionado pelo desejo de colmatar o défice permanente de não chegar para tudo. 
 
 
Tempo livre, se quisermos, será então "tempo que tem as suas próprias rédeas". Não servil ao nosso desejo. Tempo que, sozinho, passa, sem querer saber se o estamos a aproveitar ou não. Porque é a ânsia de sabermos que o estamos a aproveitar que lhe retira justamente a liberdade que tanta falta nos faz.
 
 
Na MIND4TIME, a minha empresa, especializámo-nos profundamente em gestão de tempo ao longo dos últimos cerca de 10 anos. E, com toda a experiência que acumulámos, alguns vetores fundamentais solidificaram-se. Um deles é que não é possível otimizar a produtividade de um profissional que não consiga aceitar que não vai conseguir fazer tudo. Chego mesmo a pedir a clientes que digam alto a frase: "Eu aceito que não vou conseguir fazer tudo". Experimente, em voz alta. E reflita: acreditou no que acabou de dizer?
 
 
Gerir bem o tempo tem muito mais que ver com saber abrir mão de oportunidades do que fazer caber mais coisas. Porque quando fazemos caber coisas a mais, lá se vai o "livre", no tempo. É disso que temos saudades. Para quem alimenta a esperança de que vai conseguir fazer tudo, não interessa muito por onde começar. Há que fazer tudo a eito. E isso é uma armadilha típica. Porque não começar pelas coisas certas, na ânsia de fazer tudo, vai fazer com que, no final do dia, algumas das mais importantes tenham ficado pelo caminho...
 
 
 
Se lhe falta tempo livre, sugiro que olhe menos para o seu relógio, e mais para a sua ansiedade existencial. Resolva primeiro essa parte de ser finito. Depois, deixe o tempo mandar realmente, e viaje com ele para onde ele quiser ir. Na sensação plena de que, em determinados momentos, nada tem que ser. Nasce aí um mundo de sensações de liberdade...
 
 
Compreenda a ânsia de lutar contra uma escassez que é propriedade do universo. Não se esqueça que é no preciso momento em que quiser "aproveitar bem" o seu tempo LIVRE, que estará justamente a tirar-lhe a liberdade...
 
 
 
 

Gonçalo Gil Mata

 


 

 

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