12 MISSED CALLS!
ARTICLES • 29-10-2014
12 MISSED CALLS!

NewYork, USA


 

 
Suspeito que uma das coisas que mais nos tem entupido o email é o facto do telemóvel ser um bicho tão difícil.
 
 
Nunca nos atendem quando é preciso, depois devolvem a chamada quando já não podemos nós atender, às vezes repete-se a brincadeira dia fora. Mas que chato... é tudo tão mais agradável quando corre bem à primeira. E se for alguém com quem não temos grande confiança, é ainda pior. Quando tal, só para terminar o embaraço, acabamos por atender sem condições, a meio da reunião, na caixa do supermercado, ou com os miúdos aos berros no carro.
 
 
No email parece tudo mais fácil, nunca falha, além de que falamos o quanto nos apetece e sem interrupções. E mesmo sem ter resposta logo, sempre fica a bola do lado de lá. 
 
 
Porque tenho uma agenda complicada para telefonemas, e muitos dos meus clientes também, desde há bastante tempo que tento marcar hora certa para os mais difíceis, em vez de alimentar uma fé cega de que duas pessoas muito ocupadas acabarão eventualmente por acertar numa fresta aberta. Se ligo e não atendem, ou se não posso eu atender, sugiro logo por SMS uma hora específica, o que tende a evitar pingue-pongues falhados. Não resulta sempre, mas é uma boa ajuda.
 
 
Há também, claro, quem tenha como solução atender sempre, nem que seja para dizer que não pode falar, por exemplo por estar no cinema. É como se no dia em que compraram o telemóvel tivessem prometido ao mundo atender em qualquer situação. Uma espécie de 112, portanto. Estas pessoas chegam a pedir desculpa porque estavam a tomar banho e, embora o tivessem interrompido ao ouvir o telemóvel, entre tirar o champô dos olhos e secar as mãos não foram a tempo. Esta crença constante que o mundo pode estar em perigo, será talvez uma mistura de solicitude com presunção de importância e quem sabe um pouco de tédio a precisar de novidade.
 
 
Parece-me ainda boa prática - coisa rara de se ver, diga-se - aferir a disponibilidade no início de cada conversa, quase mesmo uma questão de educação. Qualquer versão de: "Olá, podemos falar um pouco ou está muito ocupado?", nos permite apurar se podemos socializar ou se devemos ativar o modo "30 segundos vá direto ao assunto". Toda a gente sabe como é angustiante estar com pressa e do lado de lá engrenarem em paleio, assumindo que termos atendido significa automaticamente que não estávamos a fazer absolutamente nada e que até nos apetecia conversar calmamente. Por exemplo quando ao entrar para uma reunião atendemos uma chamada da mãe - só para garantir que não aconteceu nenhuma desgraça -, e somos metralhados com um relato non-stop sobre problemáticas domésticas, sem a chance de um "estou em reunião, falamos depois, está bem?".
 
 
Mesmo anunciando a pressa, há poucas garantias que o interlocutor a compreenda. São tão raras quanto valiosas aquelas pessoas formidáveis a quem dizemos "podemos falar depois?" e em menos de 3 segundos desligam com um compreensivo "claro, não é urgente, até já". E sem entrarem em complicações do tipo "oh, desculpa, não te queria incomodar, desculpa, então falamos depois, está bem? desculpa, não devia ter ligado a esta hora..." (?!).
 
 
Enfim, tudo isto me faz pensar que o telemóvel é um bicho difícil.
 
 
Suspeito ainda que este mundo do "síncrono" está a perder a batalha para o "não síncrono", ou para um "misto" tipo WhatsApp, um tipo de comunicação que parece ter realmente muito terreno livre para ocupar. Veremos o que o futuro reserva...
 
 

 


 
 
12 MISSED CALLS
 
 
I suspect that one of the things that has been clogging our email the most is the fact that the mobile phone is such a difficult bug.
 
 
People never answer when it’s needed, then they return the call when we can’t answer, sometimes the game is repeated all day long. Quite annoying… everything is so much easier when goes well the first time around. And if it’s someone with whom we have no confidence, even worse. Sometimes, just to end the embarrassment, we end up answering with no conditions, in the middle of a work meeting, at the supermarket cashier, or in the car with the kids yelling.
 
 
Email seems a lot easier, it never fails, plus we speak as much as we please and without interruptions. And even without an immediate answer, at least the ball is in the other side.
 
 
Because I have a complicated agenda for phone calls, and so do many of my clients, for a long time I’ve been trying to schedule the right hour for the most difficult ones, instead of feeding a blind faith that two very occupied people  eventually will end up hitting an open slot. If I call and they don’t answer, or if I can’t answer, I immediately suggest a specific hour by SMS, what tends to avoid failed ping-pongs. It doesn’t always work, but it’s a good help.
 
 
There’s also, off course, those who have answering all the time as solution, even if it’s to say they can’t talk, for instance because they’re at the cinema. It’s like they promised the world they would always answer the mobile phone the day they bought it. A kind of 911. These people apologize themselves because they were taking a shower and, despite interrupting it when they heard the phone, between taking the shampoo off of the eyes and dry the hands they couldn’t make it. This constant belief that the world might be at danger, can be a mix of solicitude with self-importance presumption and who knows a little bit of boredom needing novelty.
 
 
It seems to me also a good practice – rare thing to see, let’s say – to evaluate the availability at the beginning of the conversation, almost as a matter of courtesy. Any version of: “Hi, can we talk now or are you too busy?”, allows us to understand if we have time to socialize or if we must activate the “30 seconds go straight to the subject” mode. Everyone knows how distressful it is to be in a hurry and having people in the other side gearing in a chit-chat mode, assuming that the fact that we answered the phone automatically means we weren’t doing absolutely nothing and that we were kind in the mood for a calm conversation. When we are, for instance, beginning a meeting and we answer our mom’s call – just to ensure no tragedy happened – and we are hazed with a non-stop report about house problems, without the chance of saying: “I’m in a meeting, we talk later, ok?”.
 
 
Even when we announce our hurry, we have no guaranty that our interlocutor will understand it.  So rare as precious are those formidable people to whom we can say “can we talk later?” and they hang up the phone in less than 3 seconds with a comprehensive “of course, it’s not urgent, see you later”. Without beginning with complications like “oh, sorry, I didn’t mean to bother, sorry, so we talk later, ok? Sorry, I shouldn’t have called at this time…” (?!).
 
 
Anyway, all this makes me think that the mobile phone is a difficult bug.
 
 
I still suspect that this world of "synchronous" is losing the battle to the "non-synchronous" or to a "mixed typo" like WhatsApp, a type of communication that seems to really have much free land to occupy. We'll see what the future holds...
 
 
 

 

4 comments
Ricardo Custódio
Eu n gosto qd alguem justifica pq n atendeu.Tb n gosto q m atendam a dizer q n podem falar.E acho q os telemoveis deviam ter mais hipoteses do q tem,nomeadamente dizer a quem liga q,s atendermos,c q pressa estamos.Ainda ha mto p evoluir nesse campo.
in 2014-11-01 20:10:54
Rita Gil Mata
OK, até já.
Tu-tu-tu-tu-tu-....


:D
in 2014-10-29 12:51:57
Florbela
Interessante, de facto.
È sempre bom ler estes artigos, são uma brisa na correria diária. Obrigado
in 2014-10-29 11:21:56
Carmen Cunha
Interessante, porque nos faz refletir
(de forma hilariante),
e melhorar a nossa gestão do "bicho difícil" :)

Obrigado!
in 2014-10-29 10:18:53
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