ALVARÁ DE FELICIDADE
ARTICLES • 26-11-2014
ALVARÁ DE FELICIDADE

Peninsula Valdez, ARGENTINA


Já pensou como seria arriscado ter neste preciso momento um ataque de felicidade? Sem razão nenhuma, só porque sim: pimba! Totalmente feliz por um momento! Um autêntico perigo, não?

E digo perigo, porque temos um polícia mental a monitorizar a coisa. E estar desprevenidamente bem é proibido. Como se estivesse socialmente estipulado um limite de alvarás de felicidade, e não se pudesse, simplesmente, estar bem sem antes pedir permissão. Ou porque chove, ou porque há desemprego, ou porque um amigo está mal, ou porque um ex-primeiro ministro aparece nas notícias e passa a ser obrigatório desacreditar o futuro do país, alegadamente na mão de bandidos. Como se não fosse possível escolher um outro canal, onde passam mais sorrisos e a vida é menos complicada.

Este senhor polícia mental, que tolda a nossa esperança e ambição, sabe o que faz. Antes dele um dia estávamos tão distraídos, tão contentes da silva e acertou-nos uma paulada tão grande que pensámos: da próxima é melhor estar atento, porque assim desprevenido dói muito. E passamos a acreditar que a chibata nas costas dói menos se estamos a contar, mesmo não sendo verdade.

Então montamos o tal polícia mental, a ver se o entusiasmo não é demasiado... E ele anda atento! Esquecendo que andar atento é procurar, e procurar é encontrar. E depois algures no tempo, decidimos que afinal a vida é coisa séria e que convém rir menos. E a cada "piada" que o universo faz, a cada momento único que nos oferece, estudamos o caso, com cautela, a ver se não há engano. Se é mesmo seguro rir. Se ninguém nos está a aldrabar. Tanto que a piada perde a graça. E vemos passar-nos ao lado uma e outra.

Numa sociedade como a nossa, viver intensamente feliz é como passear nu pelas ruas: totalmente desadequado. Pois eu sugiro mandarem prender o polícia e emitirem a vossa própria permissão para ser feliz. Acabe-se com essa PIDE mental. Não se espere que termine de chover, não se espere por boas notícias no jornal, não se espere pelo carro novo, nem pela casa nova, nem se espere pelo testamento escrito.

Porque a vida é um privilégio a ser sugado a cada instante com toda a merecida intensidade. Livremente. Desregradamente. Acriançadamente. Já, agora e rápido, que se acaba o tempo!!!

 

 

 

 
 
HAPPYNESS PERMISSION
 
 
 
Have you ever thought how risky it would be to have, in this precise moment, a happyness attack? Without any reason, just because: Bam! Totally happy for a moment. An authentic danger, don’t you think? 
 
 
I say danger, because we have a mental police monitoring it. And to be unpreparedly well is forbidden. As if it is socially stipulated a limited number of permits to happiness, and we, simply, may not be well without permission. Either because it rains, or because of the unemployment, or because a friend isn’t well, or because an ex-prime minister shows up on the news and becomes mandatory to discredit the entire future of a country, allegedly in the hand of bandits. As if it isn’t possible to choose another channel, where more smiles are presented and life is less complicated.
 
 
This mental police, that limits our hope and ambition, knows what he’s doing. Before him, we were so distracted one day, so simply happy and we were hitted so hard that we thought: next time is better to be alert, because when unprepared like this it hurts a lot. And we start to believe that the whip on our back hurts less if we are prepared for it, even if it isn’t true.
 
 
So we set up that mental police, to see if the enthusiasm is not too much… And he’s alert! Forgetting that being alert is to search, and to search is to find out. And then somewhere in time, we decide that life is serious after all and it’s better to smile less. Each “joke” Universe does, at each unique moment offered to us, we study the case, with caution, to see if there isn’t a mistake. If it’s safe to laugh. If is there anyone cheating on us. So much that the joke isn’t funny anymore. And we see it passing by, one and another.
 
 
In a society like ours, living intensively happy is like going around naked: totally inappropriate. So I suggest to have the cop arrested and issue your own permission to be happy. Let’s end that mental S.S.. Let’s not wait on the rain to stop, let’s not wait good news on the newspaper, let’s not wait for a new car, neither the new house, neither for the written will.
 
 
Because life is a privilege being sucked at each moment with all the deserved intensity.  Freely. Lawlessly. Childly. At once, now and quickly, time is running out!!! 
 

 

6 comments
Frederico Ferreira
*inconsciente
in 2018-03-20 11:56:14
Frederico Ferreira
O conceito de felicidade é um bocado subjectivo, tal e qual como as pessoas. Não existem pessoas melhores, nem piores, nem iguais. Somos todos diferentes. Cada indivíduo tem as suas características suis generis, as suas experiências, o modo como as vivenciou, o sentido que deu às mesmas, de que modo as aplica ao longo do seu percurso existencial. Por tudo isto o conceito de felicidade é relativo. Estou de acordo quanto à ideia do polícia. Recorda-me as minhas aulas de psicologia quando falávamos sobre os 3 níveis da mente o consciente, o pré-consciente e inconscientemente. Do id, do ego e do superego. Acho que devemos retirar qualquer obstáculos do caminho que nos permitam aceder àquilo que acreditamos ser o nosso conceito de felicidade. Devemos deixar que a energia trespasse o nosso corpo. Obviamente se temos algo dentro de nós que impeça a passagem dessa energia será muito difícil atingir os nossos objectivos.
in 2018-03-20 11:50:56
Fernando
Interessante! Gostava de ver o tema do penúltimo parágrafo mais desenvolvido.
in 2015-02-09 19:28:46
Graça Pimentel
Maravilhoso e incrivelmente verdadeiro.
Graça Pimentel
in 2015-02-04 21:50:26
Luís Simão
É mesmo verdade. A vida passa num instante e não a devemos deixar passar agarrados a estereótipos que nos impedem de ser felizes.
Deixemos esse polícia de lado. Sejamos nós mesmos e felizes.
in 2015-02-03 22:36:04
Tomaz
Fantasticamente fresco, dolorosamente verdadeiro, saudavelmente subversivo!
Obrigado, Gonçalo!
in 2014-11-27 13:39:51
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