QUEM TE AJUDA?
ARTICLES • 19-11-2014
QUEM TE AJUDA?

Maqteir, MAURITANIA


 

Uma vez, há muitos anos atrás, num deserto muito deserto, e bem no meio dele, esbarramos com uma família nómada, naturalmente muito pobre. Na minha ingenuidade infantil de quem dá os primeiros passos num mundo estranho ofereci-lhes todo o dinheiro que tinha no bolso, que ainda era algum. O patriarca olhou-me um pouco incrédulo, e por entre gestos toscos fez-se compreender: que farei eu com o seu ouro aqui no meio do nada? Dê-me água!

Hoje relembro a história como metáfora do relacionamento humano. Estamos tão profundamente submersos na nossa subjetividade, que se torna um verdadeiro desafio compreender os outros. Projetamos neles as nossas necessidades, as nossas vontades, as nossas fragilidades. Acabamos por metralhar quem mais gostamos com certezas sobre o que precisam, convictos que serão bem mais felizes através da nossa imensa sabedoria, que lhes corrigirá o mundo, que afinal é o nosso. No fundo, por ser quase impossível sentir outro sentir, é mera ilusão essa ideia de conhecermos o que faz falta aos outros.

Deduzo que talvez não possamos salvar ninguém das suas amarguras. Pertencem-lhes como as nossas só a nós pertencem. Mas podemos simplesmente estar lá. Em silêncio. Ouvir sem resolver. Escutar sabendo não compreender, sintonizando apenas no ritmo de existir também. E isso já é tanto!...

 
 

 
WHO HELPS YOU?
 
 
 
Once, many years ago, in a desert too desert, and right in the middle of it, we bumped into a nomad family, naturally very poor. In my childish naivety of whom takes the first steps in a strange world, I offered them all the money I had in my pocket, a still considerable amount. The patriarch stared at me, unbelieving, and by clumsy gestures made himself understood: what will I do with your gold here in the middle of nowhere? Give me water!
 
 
Today I remember the story as a metaphor of human relationship. We are so deeply submerged in our subjectivity, that it becomes a true challenge to understand others. We project in them our own needs, our wishes, our weaknesses. We end up strafing those we love the most with certainties about what they need, sure that they will be much happier through our endless wisdom, which will correct their world, that is our own after all. As a matter of fact, because it’s really impossible to feel another feeling, the idea of knowing what’s lacking in others’ lives, is a mere illusion. 
 
 
I gather that we may not me able to save anyone of their bitternesses. It belongs to them as ours belong to us only. But we can simply be there. In silence. Listening without trying to solve. Hearing knowing not to understand, only tunning into the rhythm of also existing. And this is already so much!...
 

 

1 comment
Larry
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