OBJETIVOS INDISCIPLINADOS
ARTICLES • 03-06-2016
OBJETIVOS INDISCIPLINADOS

Castilla e Leon, ESPANHA


 

Não me parece demasiado repetir isto: concretizar objetivos, por si só, não vale muito. Não digo que não vale nada, porque talvez valha, mas... por que haveríamos de querer atingir objetivos? chegar a um sítio de "sucesso"? o que é isso? o que queremos sentir lá que não nos autorizamos a sentir aqui?

Julgo serem estas as perguntas certas. Correr para nos validarmos só faz sentido se alimentamos a crença de sermos menos válidos. A corrida que daí vem não chega. Simplesmente não serve. Sabe a pouco. Conseguir, para provar que se consegue, é muito diferente de chegar lá por ter feito sentido ir caminhando naquela direção.


Parece-me, assim, haver duas abordagens confundíveis, mas radicalmente distintas, quanto à ciência da concretização de objetivos: a da força e a da descoberta.

Enquanto a primeira, porventura mais tradicional, remete a concretização de objetivos para um exercício de auto-motivação e força de vontade, a segunda remete-o para um exercício de descoberta e alinhamento. Enquanto a primeira acredita que o truque está na disciplina e numa luta implacável contra tudo e todos se necessário for, pondo acima de tudo uma noção artificial, arbitrária, e forçada, de "sucesso", a segunda crê num caminho natural a percorrer, a descortinar, e que pode, a alturas várias, apresentar sérias dificuldades, sem dúvida, mas onde essencialmente estão ausentes grandes teorias sobre o que quer dizer falhar ou conseguir. Não estando, pois, no significado da meta o propósito último de ir.



Muitas vezes, há que ser dado um click, para nos desbloquearmos da estagnação. Concordo. Um click libertador. Mas esse click é muito menos uma expressão de luta e coragem do que de clarividência e aceitação. Tem muito menos que ver com "eu consigo", do que com "deixei acontecer". Muito menos que ver com precisar de mais força do que com a demolição de uma barragem que impede o movimento natural. Muito menos que ver com capacidade e ego e muito mais que ver com casualidade e universo. Em estabelecer uma relação de profunda confiança com a imensa rede de segurança e generosidade que é o universo.


Sei por experiência que este enunciado é facilmente confundido com apatia, um pouco como a serenidade de um mestre de artes marciais pode ser confundida com fragilidade ou falta de energia ou velocidade. Não nos enganemos. Do equilíbrio nasce a força. De um centro forte nasce a solidez do movimento. Da caminhada serena e alinhada nasce a distância percorrida. Eventualmente, por aí se chega a sítios, certamente, mas sítios que são muito mais consequência do que intenção.


Ousemos, pois, sossegar na passada que por natureza nos puxa... peça ela descanso ou corrida, queira ela ruído ou silêncio, amigos ou retiro, conforto ou atrevimento, costume ou novidade, acalmia ou tempestade. Porque na aceitação dessa passada, e no respeito pelo exato ritmo que nos pede, está a paz que procuramos.

 

 

Gonçalo Gil Mata
 

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