Puerto Escondido, MEXICO
Aqui há alguns anos atrás, no Algarve, um falso alarme da proteção civil, sobre uma aparente onda gigantesca, pôs em fuga milhares de pessoas das praias, em modo próximo do pânico, entusiasticamente enxotados por polícias de megafone em punho, em algumas praias montados em imponentes pick-ups e motos de água. O filme tinha tudo para ser real. Mas não era. Um mero efeito ótico numa neblina de horizonte a criar uma infeliz (ou feliz) trapaça a quem tinha a responsabilidade de, caso fosse verdade, zelar em consciência pela vida de dezenas de milhares de veraneantes.
A nossa mente é justamente assim que funciona. Criamos filmes possíveis, que, a ser verdade, nos requerem o maior dos alarmes. Como diria Michael Neill, podemos mesmo passar uma vida a construir grandes fortalezas, para nos protegermos de dragões que, mais tarde, descobrimos nunca terem existido.
Alguns constroem esses castelos de dinheiro, sabendo que, aconteça o que acontecer, dinheiro no banco resolverá tudo, embora, na prática, nunca vivam na segurança de terem acumulado o suficiente, por nunca chegar. Outros constroem castelos de amigos, acreditando que, se mantiverem todos contentes e nunca se zangarem com ninguém, tudo estará bem. Embora, muitas vezes, a tensão e desassossego associados a essa permanente monitorização, acabe por toldar o leque de respostas naturais possíveis. Outros constroem castelos de saúde, na crença de que, boas práticas de exercício físico e comida saudável, salvarão aquele que é o templo terreno da nossa espiritualidade, embora nenhuma maratona complete de vez essa eterna vontade de ir mais além.
Também há quem esteja convencido de outras técnicas de construção de muralhas: meditação disciplinada, aprendizagem constante, superação contínua, reduzir tudo a uma lógica racional absoluta, alimentar força de vontade de super-homem, auto-conhecimento, uma casa maior, uma família regrada, um clima mais solarengo, um carro novo, ou ..., ..., ... enfim, são mil as hipóteses.
Mas uma reflexão impõe-se: o que aconteceria se de repente percebêssemos que os dragões não existem? Que o pior de todos os cenários é um determinado sentimento, e que esse, em si, é apenas uma nuvem de pensamento? O que aconteceria a toda essa fuga se soubéssemos, com toda a certeza, que a onda não era o que parecia?
Claro que há regras do mundo real que estão lá para ficar, incontornáveis. Mas, dado o espaço mental certo, todos nós conseguimos ver na nossa existência que os nossos piores medos por que já passámos foram sempre autênticos Tsunamis virtuais: ou nunca aconteceram verdadeiramente, ou, se aconteceram, soubemos exatamente como enfrentá-los, muitas vezes para nosso próprio espanto com tamanha capacidade de resolução e/ou resiliência.
Na verdade, uma e outra vez podemos constatar que, a grande origem do nosso sofrimento, se esgota no próprio medo, na antecipação, na hipótese, na possibilidade, na incerteza de que pudesse acontecer. No fundo, o mais palpável da nossa experiência, é um constante filme mental que cria estas grandes produções cinematográficas a que nos entregamos. Nem por isso com uma relação assim tão direta com o que está mesmo a acontecer. Uma constante cena de Hitchcock, plena de suspense, uma vontade indomável de saltar para a tela - o nosso contexto - e resolver no mundo cá fora aquilo que não passa de uma encenação mental, interior.
E se é verdade que não podemos (nem queremos) deixar de sentir tudo o que sentimos, o segredo para uma vida mais plena estará sempre em conseguirmos autorizar sentimentos que algures no passado calhámos de classificar como proibidos, entre os quais está o medo. Felizmente, estamos sempre a tempo de rever essas regras, principalmente quando percebemos ser apenas um filme. É que, convém relembrar, fora da Guerra dos Tronos, os dragões não existem!
Gonçalo Gil Mata
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Eu estava lá nesse ano!
Foi um verdadeiro filme de terror - e mais do que o medo, lembro-me do riso quando percebemos que era mentira.
Vamos lá rir-nos dos nossos dragões imaginários (mas deixe-mo-los continuar no GoT, que são bem precisos eheehe).