Firenza, ITALIA
Estou quase a acabar o livro. E no entanto, mesmo neste finalzinho, parece que derrapa o ritmo... Há prazo, e é para cumprir, mas há também uma resistência cá por dentro.
E é um pouco assim em muita coisa. A última da hora é um dos nossos processos mais lógicos, com história. Quantas dezenas de exames não fizemos já, para os quais deveríamos ter estudado com vários dias de antecedência, e que afinal uma direta na véspera deu conta do recado? Quantas apresentações de PowerPoint não se arrastaram já pela lista de tarefas fora, até que a pressão da noite anterior as resolveu tão bem? Quantos dentes não esperaram já o que tiveram que esperar, numa dor tolerável, até finalmente deixar de o ser: até não sermos bem nós a decidir, mas sim o universo, que, na sua evidência de não haver alternativa, nos empurra, nos embala e nos acomoda à cadeira do senhor doutor para que faça as suas atrozes habilidades.
Mas não é só isto. Ainda há tão pouco escrevi sobre fugir com o rabo à seringa, e tão bem agora o sinto, sabendo que o que evito é o que se evita sempre nestas coisas: entregar. Porque entregar significa submeter à avaliação. E se o que fazemos é quem somos, estamos nós e não o trabalho no banco dos réus.
Felizmente vou vendo a alternativa por entre os dias mais difíceis: quero terminar, porque tenho qualquer coisa para dizer. Porque acho que pode ser útil. Aí surgem-me pessoas, umas mais chegadas, outras mais distantes, e eu imagino-lhes o livro na mão. E, pensando no valor que possa ter para elas, no jeito que lhes vai dar, páro de tropeçar no meu ego, e a coisa flui melhor... até me lembrar outra vez de mim, e me atrapalhar novamente; depois torna a passar, sabendo que sempre volta.
É, isto custa... Não tendo parido, não posso dizer que escrever é como parir. Mas pelo que vi parece mesmo. Enfim, está quase. É que já não posso mais... Eu sei, mas um último esforço. Vá, puxa agora com toda a força!!!...
Que tenhas uma boa horinha!